O trânsito estava, como sempre, parado. Já estava escuro, e umas poucas gotas fracas caiam no vidro do carro, para reforçar a melancolia. Fazia uma hora e meia que ela dirigia - ou tentava. Procurou no bolso um isqueiro, acendeu mais um cigarro, meio sem vontade. Ela só queria fazer alguma coisa com as mãos, com a boca.
Nada de novo acontecia. Ela corria tanto que mal se lembrava do que havia feito nos últimos dias, mas não era nada de importante. Se a vida dela fosse um livro, suas últimas semanas seriam páginas em branco para não entediar o leitor. As coisas permaneciam estáticas para ela - o resto do mundo, por outro lado, parecia se divertir aos montes. Quando foi que isso tudo mudou?
O carro da frente andou um pouco. Ela engatou a marcha e colou atrás dele mais uma vez. Checou o celular, nada novo. Olhou pro lado, um homem com uns 35 anos de terno a encarava. Ele desviou o olhar, desinteressado. Olhou de novo. Sorriu. Ela fechou o vidro.
"Alguns dias são assim, eu acho", ela pensou. "Acho que não dá para ser feliz todos os dias. Mas nem triste eu ando. Só dormente... E se eu morrer amanhã?"
Ela deu um último trago no cigarro e o jogou pela janela, quase na metade ainda. A chuva diminuia. Mais meia hora e ela estaria em casa.
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